Suicidas
ÚLTIMO TREMOR
Galhos altos, como pássaros, abrem passo,
despencam da memória das folhas,
ninhos e trapézios arriscados
que não deixam
traços no ar.
O chamado se reduz a uma árvore quebrada,
refúgio da chuva,
sobre o cenário breve da vida.
Notam que o céu fica além das luzes,
além das sombras disformes tombando.
- Como vocês gostariam de morrer?
- Não como morremos, voando...
Mas quem poderá saber o que dizem,
quando esperam no chão, imóveis,
a pisada de quem passa
e não traduz o íntimo
de seu último tremor?
Gabriel Gómez -
do livro : Suicidas-Os modos de falar à parede
editado em 2012
NÃO HÁ
Não há esperança.
Nenhuma.
Não há final feliz
qualquer.
Nem outro amanhecer
sem dor.
Haveremos de continuar
sem lágrimas,
respirando pouca luz,
este sonho, a vida distraída,
a justiça prometida,
o sempre.
Perguntamo-nos: e se alguém tivesse
invadido? E se permanecesse aqui,
envolvendo, convidando...?
Alguém que não soubesse
que não há esperança,
apenas postergações da mesma dor,
e mesmo assim, resgatasse a fé,
o abandono, um antes e um depois,
como se importasse,
como importam,
as coisas que foram, caíram,
que ninguém mais olha,
anteciparam sua morte, batendo,
batendo sempre a mesma porta,
e nós, acuados, no canto, sem querer ouvir,
porque não há ninguém,
ninguém para atender,
para levar ou trazer
seu amor.
Não há.
do livro - Suicidas - Os modos de falar à parede
de Gabriel Gómez - 2012.