21 de setembro de 2020
Categoria | Ivo Ferrari
Caminhando... um passo à frente
Senhor!
Tu que emprestastes de Tua sabedoria
Ao profeta
Ilumina o caminho que tanto procuro
Para que não sejam falsos meus passos
Nem siga perdido sonâmbulo no escuro.
Devo caminhar
Por estradas de pedras
Para atravessar os portões de ferro
Trancados entre mim e a liberdade
Devo caminhar
Por um mundo de medos e saudades
Pontilhado de silêncios e recordações.
Prosseguir aos poucos... ouvindo silêncios
Sem perder as esperanças mesmo em tempos
De velocidade
Avançar em túnel desconhecido
À luz de lamparina bruxuleante
Para não se perder em sonhos ordinários.
Para não ser iludido por meras visões
Que tantas vezes nos perseguem.
Não podemos
Nas planuras dos tempos eternos
Ser contemplados como algo sem nome
Sabendo-se apenas que vivemos
Como vive um ser qualquer
Vagando pelo mundo
Aos trancos e barrancos
Sem saber de onde veio
Sem ter certeza para onde vai
Uma mistura de qualquer coisa
Como se isso fosse verdadeiro. Real.
Num dia qualquer que ficamos
Ao longo da vida esperando
Acontecer alguma coisa diferente
De repente
Percebemos que a vida é assim mesmo
Tão quotidiana
Tão rotineira
Que as coisas importantes
São aquelas que vimos passar
A todo instante
Tão perto de nós e não percebemos
E as deixamos de lado
Como se deixa de lado qualquer coisa
Sem importância.
Devo caminhar
Solitário buscador
Embrenhado por trilhas desconhecidas
Ouvindo o bater do martelo
Na bigorna do tempo
Marcando o compasso
Das noites...
Dos dias...
A vida é como um oceano
Não tem repouso
Em movimento constante
De trabalho, de amor, de luta humana.
Neste sono de tantos acordar
E adormecer
De muitos abrir e fechar de olhos
De forçados sorrisos
E lágrimas incontidas
Me consola:
Viver como um lírio no campo
Branco
Inocente
Contente
Viver poucos dias porém santo
Ser haste fina
Trêmula aos ventos
Oferecendo aos céus uma flor divina.
Na terra prometida livre de remorsos
Seremos outros anjos
Somados aos anjos já existentes.
Nada é fácil na vida
Trabalhar, comer, dormir,
Fazer amor, abraçar, sorrir, passear,
Foram sempre atos
Entremeados de tristezas e indecisões.
São poucos os sofrimentos
O mais difícil de tudo
São as despedidas
Em hora improvisada
Acreditamos que são apenas
Uma separação de espera
De curtos momentos
Longe de quem vai...
Quem fica
Sobrecarregados
De saudades conseguimos acreditar...
A vida não é contada em anos.
Devemos ser
mais corajosos diante do estranho
que pode nos defrontar a cada dia
essa covardia que nos prende a indecisões
devemos esquecê-la.
Neste caminho do tempo
Não tem como voltar
Tudo o que acontece é sempre um novo começo.
Quem resiste ao tempo são as pedras
Que dormem encantadas
A beira dos caminhos
É na luta que aprendemos a ser fortes
Assim
Quem nos ensina a repensar a vida
É o sofrimento.
Olhar para a frente, para bem mais longe
Essa magia de ver além de nossos limites
Nós devemos aprendê-la
Ver tudo como se fosse
Uma cidade imaginária
Uma grande cidade de sonhos
Onde poucos privilegiados passeiam.
Este mundo tão distante de nosso imaginário
Ele existe dentro de nós
E num belo dia de sol veremos encantados
Que não estamos mais a sós
Num campo em ondas amarelas
Agradecidos girassóis voltar-se-ão para nós.
Ivo Ferrari
Texto retirado do livro “ANTOLOGIA POÉTICA E OUTROS TEXTOS” publicado pela Gráfica Editora 3 de maio Ltda. Blumenau, 2019.

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