A CRÔNICA DAS FLORES
21 de setembro de 2020

A CRÔNICA DAS FLORES

Categoria | Sem categoria

A CRÔNICA DAS FLORES Harry Wiese Margarida Buganvília da Rosa me solicitou que escrevesse uma crônica sobre flores. Flores, segundo ela, são a teor dos jardins das residências do Vale do Itajaí, portanto, o tema é merecedor de ser solicitado e escrito. Disse, também, que enviaria o texto para sua filha, que ama crônicas e flores. Agradeço pela solicitação, bondosa senhora, mas há tantos textos sobre flores, em prosa e verso, que nada mais me parece original. A maioria deles é simplória e superficial. Rima-se flor com dor e amor e o poema está feito. Pode parecer bonito, mas são rimas pobres, desprovidas de poética e lirismo. Então, o que escrever sem ser simplório e repetitivo? Mesmo assim procederei à solicitação com entusiasmo e benquerença. Pedi a um menino que me ajudasse e dissesse o que entende por flores porque crianças são originais e sinceras, merecedoras de serem ouvidas e respeitadas. Ele disse que “as flores nascem e morrem como a gente, mas entre nascer e morrer elas florescem”. Florescem no seu devido tempo, de acordo com as características de cada espécie e não conforme nossa vontade, fato poetizado por Carlos Drummond de Andrade, que disse em um de seus poemas: “Leis não bastam. As flores não florescem da lei”. Tudo o que foi escrito é importante, mas não o suficiente. Assim, para descrever com maior desenvoltura as flores, peço auxílio a Alberto Caieiro, heterônimo de Fernando Pessoa, fiel assistente poético dos famintos de sensibilidade lírica. “Se às vezes digo que as flores sorriem/ E se eu disser que os rios cantam,/ Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores/ E cantos no correr dos rios.../ É porque assim faço mais sentir aos homens falsos/ A existência verdadeiramente real das flores e dos rios”. Cara leitora solicitante do texto! Para incrementar a existência real das flores, ainda vou buscar subsídios na poetisa portuguesa de grande prestígio: Florbela Espanca. Florbela tem flor no nome dela e isso não diz pouco. Perceba como ela transmite “A flor do sonho”: “A Flor do Sonho alvíssima, divina/ Miraculosamente abriu em mim,/ Como se uma magnólia de cetim/ Fosse florir num muro todo em ruína./ Pende em meu seio a haste branda e fina./ E não posso entender como é que, enfim,/ Essa tão rara flor abriu assim!...” Quando enviamos ou oferecemos flores às pessoas é para dizer o que não pode ser dito com texto. É quando as flores são mais fortes que as palavras. É nesse momento que elas falam, provocando sorrisos ou lágrimas, na alegria ou na tristeza, nas celebrações ou funerais. Engana-se quem pensa que as funções das flores são só as elencadas acima. Flores também são metáforas e matérias-primas nobres. Há plantações de girassóis de perder de vista, que depois de visuais deslumbrantes viram toneladas de sementes para as mais diversas importâncias. E o que dizer da cultura de lavandas, que parecem mares e céus azuis, perfumados, que além do encanto se transformam em fragrâncias para momentos de amor maior. Escrever sobre flores é nobre, cara leitora Margarida Buganvília da Rosa. Ainda mais quando se trata de flores dos jardins da nossa cidade, como consta em sua justificativa, sem falar das que florescem somente para Deus. Há flores na floresta, orquídeas, bromélias, cipó de São João, caetés e miríades de plantas grandes e pequenas nas montanhas, nas estepes, nas savanas, nos campos, que ninguém vê, mas que cumprem sua função existencial de florescência. Escrever sobre flores foi fenomenal, minha cara leitora! Entre em contato com este cronista sempre que quiser e puder e não se esqueça de que flores não são como gente, flores florescem e falam quando as palavras faltam! E não se esqueça de enviar a crônica para a sua filha! Em breve, não deixe de ler: A RESPOSTA DE MARGARIDA BUGANVÍLIA DA ROSA

< Anterior Próximo >