O poema que não escrevo
5 de setembro de 2020

O poema que não escrevo

Categoria | Gabriel Gómez

O poema que não escrevo

é a voz ausente

que está.

É o silencio de palavras

com medo

que não entram

nas palavras.

É o poema que não passa,

não volta.

não abre

e cria novos silêncios

no grito.

Tem a memória do esquecimento,

do que se salva por não existir,

no que me reconhece,

no que me existe.

E tudo disse seu não dizer,

quer dizer

e outra coisa.

É o único livre da fúria da

página em branco,

mas não se parece a nada

seu nada.

Minha máquina de escrever a mão

é a mão.

Minha mão é a mão que

maquina não escrever.

Seu desejo explode entre meus dedos

amputados em frases que evito falar e

não sabem como não dizer.

A palavra limita,

imita,

recusa,

improvisa

e pouco se parece com aquilo que sentimos.

O invisível fala. Mas tudo nunca expõe tudo,

não revela

não traça
  Por Gabriel Gómez

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