Voltar a Escritores

Generoso Bogo

Natural do município de Rio do Oeste, desempenhou atividades religiosas como Padre. Nasceu na época que Rio do Oeste ainda integrava o município de Rio do Sul.

Livro publicado como autor
1 - Imagens e Paisagens do Vietnam. Editora Escola Gráfica Dom Bosco
– Porto Alegre – Rio Grande do Sul. 1969.



Araras, 12 de Setembro de 1991.

Prezados irmãos salesianos:
Faleceu no dia 26 de Agosto em Jaraguá do Sul (SC) o nosso irmão em D.Bosco Pe. GENEROSO BOGO.
Por circunstâncias especiais, não tendo ele residência fixa, tomei o encargo de escrever sua carta mortuária, não só levado
pela longa amizade que nos uniu (estivemos juntos desde 1932 até 1947) mas mais que tudo pelo espírito de família tão
desejado por D.Bosco. É mais um irmão que foi para a casa do Pai e que nos deixa algumas lições.

Nasceu o Pe. Generoso em Ribeirão do Café (SC) no dia 21 de Agosto de 1917. Após alguns anos de aspirantado em Ascurra, em 1932 veio para Lavrinhas para fazer seus estudos ginasiais que terminou em 1937. Depois do noviciado, junto com a filosofia frequentou a faculdade de São Bento para adquirir o título de professor de Geografia e História. O seu tirocínio ele o fez em Santa Teresinha.
Entrou para o estudantado teológico da Lapa em 1944, ordenando-se de padre em 08 de Dezembro de 1947.

Trabalhou alguns anos em Ascurra como ecônomo daquele florescente aspirantado. Depois querendo ajudar um irmão que fora para as missões da Ásia, partiu para lá em 1952. Lá permaneceu 25 anos durante a tormentosa guerra, tendo sofrido todos os percalços do conflito. Tenho em mãos o relatório da sua fuga de Hanoi para Saigon, em aviões e caminhões, levando consigo cerca de 900 meninos e tendo que pousar por vários meses em meio a florestas.
Uma verdadeira epopeia onde ele mostra seu zelo de salesiano e sacerdote. No fim dessa guerra é obrigado a se retirar do Vietnã e voltar para o Brasil. Após tantos anos vivendo em circunstâncias difíceis e em cultura bem diferente da nossa, sentiu dificuldade em se adaptar novamente à vida regular de um colégio. Ficou trabalhando em várias paróquias de diversas dioceses. Ultimamente pensava em incardinar-se na diocese de Botucatu, estando já tratando dos trâmites para isso. Mas D. Bosco que vira o seu trabalho insano nas missões não o deixou sair de sua família e o levou para a casa do Pai.

FACE HUMANA DO PE. GENEROSO:
Poderíamos ver dois aspectos na face humana do Pe. Generoso, antes e depois da sua ida ao Vietnã. Antes era um tipo extrovertido, brincalhão (que o digam os teatros de Lavrinhas e Lapa) entusiasta por tudo o que fazia (lembrar as festas de São João que fazia em Ascurra) sem olhar obstáculos e fadigas. Depois tornou-se um tipo introvertido, desanimado, desiludido, pessimista.
O que sofreu naquele longínquo país foi causa desta triste mudança. Ademais quando chegou ao Brasil não foi bem recebido e em alguns
colégios chegaram-lhe atirar em face o título de agente da CIA. porque descrevia as atrocidades que vira os vietcongues praticarem. Isso o fazia fugir das nossas casas e somente se sentia bem quando encontrava seus antigos colegas com os quais se abria um pouco. Na última visita que fez a esta casa, uma semana antes de morrer, confessou que seu sonho era voltar ao seu querido Vietnã.
Era dotado de uma boa inteligência, muito procurado para fazer os discursos no estudantado. Escreveu um belo livro sobre o Vietnã que foi pouco difundido, pois a edição, por vários motivos, só parcialmente foi distribuída. Voz delicada, afinadíssima, era o solista da Schola Cantorum do Instituto Pio XI. Topava qualquer trabalho que aparecesse, desde o mais humilde até o que exigisse um esforço intelectual grande. Sabia animar os colegas de teologia, nas pequenas ou grandes encrencas que costumam aparecer nesse ambiente.

FACE RELIGIOSA DO PE. GENEROSO:
Apesar de sua índole aberta, antes da ida ao Vietnã, e da sua introversão após o retorno, era de uma piedade profunda. Quando
aparecia aqui em Araras, quantas vezes durante o dia era encontrado sentado diante do SS.Sacramento rezando fervorosamente. Era fidelíssimo ao breviário. Gostava imensamente de dar catecismo. Estava em seus planos fazer um catecismo para os imigrantes vietnamitas que estão na França ou na USA. Alguns se admiravam que ele falasse tanto em dinheiro, mas ele o enviava para o centro dos imigrantes vietnamitas daqueles dois paises, Ele sabia que lá passavam muitas necessidades. Quando pároco na diocese de Maceió, desfez-se de muitas coisas que ele achava supérfluas mas que estimava muito para ajudar os mais pobres de sua paróquia. Sofreu alguma incompreensão de algum superior do conselho geral, por ocasião da sua fuga do Vietnã acompanhando até a França cerca de 50 crianças órfãs. Mas não gostava de falar desse assunto e quando provocado, dava uma piada e mudava de assunto.
Nunca se ouviu de sua parte qualquer palavra de arrependimento por ser sacerdote salesiano e missionário. Gostava de exercer o seu sacerdócio. Que o digam as paróquias por onde passou. No seu zelo chegava por vezes ultrapassar certas normas dadas oelos Srs. Bispos.
Isso ele o fazia por zelo olhando mais o espírito da lei do que a letra. Onde trabalhou como pároco e por onde passou deixou após si gratas
recordações. Seus sermões eram apreciadíssimos quer pela linguagem, quer pelo assunto que ele sabia apresentar de maneira leve e agradável. Então quando falava de seu Vietnã querido se empolgava.
Preocupava-se com o abandono religioso dos imigrantes vietnamitas e sonhava ir trabalhar no meio deles. Mas os desígnos de Deus eram outros.

SUA MORTE:
Quando esteve aqui em Araras, uma semana antes de sua morte, reclamou um pouco da saúde, máxime pelos indícios da diabete. Mas não
era nada de grave. Soubemos que indo de viagem num carro de um amigo, ao chegar a Jaraguá do Sul (SC) abrindo-se a porta para o padre descer, este tombou por terra, talvez fulminado por um enfarto.
Deus terá recompensado sua fidelidade ao seu sacerdócio que viveu com toda a dignidade e os seus sofrimentos nas missões do Vietnã, durante as circunstância dolorosas que todos conhecemos, e isso por 25 anos. Estando para embarcar para as missões, uma semana antes, ao ir despedir-se de alguns parentes, o veículo que o conduzia tombou causando a morte de sua mãe querida. Apesar disso embarcou no dia aprazado. Esse fato, o deixar a Pátria e passar por aquilo que enfrentou nas missões terão sido contados perante o tribunal de Deus.
Em todo caso, como sinal da tal fraternidade religiosa, não o esqueçamos em nossas orações.

PE. JOÃO MODESTI

 

P. GENEROSO BOGO
* Ribeirão do Café (SC), 21 de agosto de 1916
† Jaraguá do Sul (SC), 26 de agosto de 1991 com
75 anos de idade,
54 anos de vida religiosa salesiana
44 anos de presbiterado.


Obras